Exposição Vorkurs
A Exposição Vorkurs foi realizada durante o II Encontro Internacional da Rede Visível (Brasil-Portugal), na Universidade de Londrina em setembro de 2019. Na ocasião participaram diversos artistas professores da exposição, com trabalhos que reconhecem a articulação do processo criativo e da prática docente. Neste sentido, o Estúdio de Pintura Apotheke apresentou conjunto de trabalhos realizados nos últimos anos, que celebram como um curso elementar e fora do currículo do curso de artes visuais, práticas artística baseada na pesquisa em arte e no campo da arte educação.
Curadoria: Ronaldo de Oliveira (UEL)
Participantes
Adriane Kirst
Fabiana Amaral
Fábio Wosniak
Jociele Lampert
José Carlos da Rocha
Juliano Siqueira
Luciana Finco Mendonça
Márcia Figueiredo
Mari Colbeich
Marta Facco
Rita de Cássia S. Eger
Silvia Carvalho
Tharciana Goulart da Silva
ARTISTAS PROFESSORES: O QUE PESQUISAM AQUELES QUE ENSINAM?
Essa mostra, simultânea ao II Encontro internacional da Rede Visível, apresenta investigações de educadores que estão, de algum modo, ligados à Rede e interessados nas conexões entre arte, educação e pesquisa. Conhecer a produção visual desses professores é o propósito da mostra. Para isso convidamos artistas/professores a mostrarem suas produções, incluindo investigações ligadas aos seus grupos de pesquisa. Nesse sentido os trabalhos que compõem a exposição são de pesquisadores que frequentam o Estúdio de Pintura Apotheke da UDESC, coordenado pela artista/professora Jociele Lampert, e dos artistas/professores Danilo Villa (UEL), Claudio Garcia (UEL), João Paulo Queiroz (Faculdade Belas Artes de Lisboa), Juliano Siqueira (UEL), Rita Demarchi (IFSP) e Umbelina Barreto (UFRGS).
O que nos guiou a reunir essas produções foi o desejo de destacar a pesquisa em arte desses docentes, desse modo temos no espaço expositivo produções diversas, pois diversas são as pesquisas e seus modos de constituição; sem priorizar uma temática, um assunto, mas simplesmente destacar onde o interesse investigativo de cada um paira e se desdobra em forma de arte. Assim do Estúdio de Pintura Apotheke temos produções diversificadas a partir de um conjunto de trabalhos intitulado VORKUS. A heterogeneidade caracteriza a produção do Apotheke que nasce de proposições docentes e artísticas no intuito de criar formas visuais por meio de exercícios e procedimentos.
A coordenadora Jociele Lampert dimensiona essa investigação, que envolve Monotipia, Anthotype, Encáustica, Cianotipia, Aquarela, Colagem, dentre outras que compreendem o estudo da Pintura e do Desenho, da interação da cor ou estudo da forma: “Como professora de Graduação e Pós-Graduação em Universidade Pública no Brasil, tenho me questionado: como desenvolver um estudo prático e teórico no ensino/aprendizagem das Artes Visuais? E como abordar isto na formação inicial de professores de Artes Visuais? Minhas reflexões incidem sobre o lugar do artista professor pesquisador.”(LAMPERT, 2017)
Claudio Garcia leva sua pesquisa cromática ao limite; suas pinturas vão se constituindo com o passar do tempo através de camadas depositadas ao longo dos anos e ficam ali a espera da sedimentação do próprio tempo. O artista, referindo a paisagem e a cor azul, fala dessa dimensão temporal, arcaica que tanto lhe chama atenção, “Esse azul me puxa para uma representação de algo mais antigo (...) gosto de coisas remotas. As coisas arquetípicas me parecem azuis. Vem do Egito esse azul. Embora este azul seja sintético, ele me remete ao arcaico” (GARCIA, 2017). Claudio, por meio dessas suas obras expostas fala-nos de um tempo, como se esse tempo, do qual nos fala, tivesse uma duração quase infinita. Um trabalho em processo... camadas de tempo e de cor que revelam pouco a pouco suas nuances como um palimpsesto.
Danillo Villa com uma imensa fotografia plotada e colada diretamente na parede, nos inquieta e faz refletir sobre paisagem, arte, natureza, arquitetura e cultura. A imagem foi capturada ao atirar na natureza um trabalho intitulado “Eu Te Darei O Céu Meu Bem”. A cada arremesso, esse objeto foi fotografado quando estava em deslocamento criando assim, uma série de imagens, outras reconfigurações em forma de arte. Com a força do gesto de arremessar um “trabalho que estava pronto” em direção ao céu o artista cria outras possibilidades de ver e experimentar. Agora, ao agigantar a imagem que capturou quando arremessou seu trabalho pelos ares em direção ao céu, ele traz para o espaço expositivo um diálogo entre arte e natureza, na forma de imagem. Danillo, ao arremessar, capturar e ampliar, relaciona arte/natureza/arquitetura, num movimento dinâmico e complexo que não para de se transformar assim como a arte e a própria vida.
João Paulo Queiroz nos apresenta uma série de fotografias digitais, são imagens de pinturas e de paisagens fotografadas de maneira justaposta; pinturas de paisagens fotografadas na paisagem.
Numa sequência cadenciada podemos ir pouco a pouco refletindo sobre aquilo que é arte, natureza, referente e referência. Sistematicamente, o artista se desloca para uma mesma localidade em Portugal e se coloca, como um pintor chinês, diante da natureza a pintar esse mesmo lugar no decorrer de vários dias. As fotografias digitais são registros que buscam capturar o caminhar do tempo, o passar das horas do seu processo de criação. Atento às mudanças, aos pequenos e sutis acontecimentos e transformações que ocorrem na paisagem, João Paulo Queiroz testemunha e documenta a própria vida, por meio de uma tentativa de registro do tempo, assim estabelece um diálogo entre mutação e permanência.
Juliano Siqueira apresenta peças de uma série de construções em madeira desenvolvidas no
projeto Albers. O intuito do projeto foi integrar à pesquisa tridimensional, as experimentações cromáticas estudadas no Estúdio de Pintura Apotheke/UDESC. A partir dos exercícios de interação de cores de Josef Albers, o estudo experimental da visão foi associado à imaginação e à fantasia poética.
Considerando a interdependência da cor com a forma, o desafio foi incorporar, de modo orgânico, esses estudos cromáticos à investigação escultórica, através do uso de cera de abelhas e pigmentos sobre a madeira.
Umbelina Barreto artista/professora do Instituto de Artes da UFRGS apresenta o tríptico Náusea, da série denominada Narrativas Cruzadas, constituída de desenhos em grandes formatos. A exposição Utopia e Náusea ocorreu em um período no qual as utopias por um Brasil melhor estavam todas a se desfazer. Entretanto, a artista inicia a série com a afirmação da utopia, em narrativas nas quais se conectam “elementos brasileiros, portugueses e moçambicanos, a brincar com o barroco e as possibilidades de ampliar o imaginário brasileiro. E ao longo do desenvolvimento das obras a mudança da realidade brasileira vai se manifestando e se instalando na forma e no pensamento gerando uma náusea
que vem da incredulidade do ser frente ao absurdo, ao se deparar com o inimaginável” (BARRETO, 2019). A artista, sem a pretensão de um resultado que seja mais do que uma grande “contação para os olhos”, questiona os valores culturais que nos constituem na atualidade.
Rita Demarchi (IFSP) a partir da questão: “Como ver aquele que vê?” apresenta um caminho
investigativo através da fotografia de espaços expositivos. Provenientes da sua tese de doutoramento, Rita nos traz um conjunto de Foto Ensaios, no qual ela flagra frequentadores de exposições, em momentos de contato com a arte. Ela faz da sua busca/caminho/pesquisa um andar peregrino, enquanto frequentadora de exposições. Fica à espreita desses acontecimentos, de momentos em que percebe diferentes modos de contatos e aproximações com a arte. Para Rita “ver” é um ato despojado e complexo ao mesmo tempo: “Em meio às ambivalências dedico-me a “ver aquele que vê”, em especial junto aos ‘templos’ que me são tão caros. Vê-lo, tentar compreendê-lo em sua existência e circunstâncias, sem tocá-
lo, sem dirigir-lhe a palavra; e dele capturar uma imagem” (DEMARCHI, 2014).
A atuação do artista e a pesquisa em arte na universidade trazem um fôlego a um espaço cada vez mais dominado pela ciência, pela tecnologia e pelo produtivismo. A arte pode criar outras instâncias de interface com a sociedade e mostrar que a universidade também é um lugar de ação, potente em invenção de outras dinâmicas. Reunir esses artistas/educadores é uma forma da Rede Visível caracterizar a universidade como espaço de criação artística e de resistência.
Ronaldo Alexandre de Oliveira
Juliano Siqueira